segunda-feira, 8 de novembro de 2021

AÇÃO ITINERANTE DE SAÚDE - OMULU TERRA DE QUILOMBO NA COPA QUILOMBOLA

 

Durante a abertura da I Copa Quilombola, realizada neste dia 07 de novembro, no quilombo de Nova Vista do Ituqui, a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém - FOQS, através da equipe de voluntários e parceiros do projeto Omulu - Terra de Quilombo: Cuidando de Vidas Ancestrais, promoveu mais uma ação itinerante de saúde. 







A ação contou com os serviços de verificação de pressão arterial, tipagem sanguínea;  coleta de PCCU, teste de glicemia e orientação de enfermagem. A ação decorrente em decorrência da realização da I Copa Quilombola de Santarém onde participaram quilombolas de Nova Vista do Ituqui, São Raimundo do Ituqui, São José do Ituqui e Saracura.








Participaram da ação acadêmicos do curso de enfermagem, farmácia e técnico de enfermagem da Universidade do Estado do Pará - UEPA e Centro de Educação Profissional Esperança - CEPES Contou ainda com uma parceria da Terra de Direitos, Colônia de Pescadores Z-20, Ponto de Cultura Kizomba, Jaime Fotografia, Igreja N. Sra. das Graças e Associação Quilombola de Nova Vista do Ituqui - ARQNOVI.





















sábado, 16 de outubro de 2021

FOQS INICIA QUALIFICAÇÃO DE JOVENS COMUNICADORES/AS QUILOMBOLAS

Mística de abertura do encontro. Ancestralidade, identidade e comunicação
Foto: Marluce Coelho (2021).

A FOQS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém juntamente com a ProEpi - Associação Brasileira de Profissionais de Epidemiologia de Campo iniciarão a qualificação de Jovens Comunicadores/as Quilombolas que abrangerão os quilombos dos municípios de Santarém e Prainha. O objetivo da proposta é que os/as jovens possam contribuir na viabilidade de novas ferramentas comunicacionais que contribuam para o monitoramento e sistematização dos dados relativos à COVID-19 nos territórios quilombolas. Ao total serão oito encontros formativos que qualificarão os/as jovens e os/as possibilitarão desenvolver novas capacidades comunicacionais utilizando equipamentos como o celular, por exemplo.

Jovens Comunicadores/as Quilombolas, novos sonhos
Foto: Aldo Lima (2021)


Simultaneamente às formações promovidas pela ProEpi, alguns momentos serão realizados pela FOQS para que haja uma formação integral no âmbito étnicorracial dos/as jovens. Nesse primeiro encontro, ocorrido neste último dia 15, o antropólogo Aldo Lima e coordenador do Ponto de Cultura Kizomba dinamizou a temática sobre ancestralidade, identidade e comunicação. Também o presidente da FOQS, Mário Pantoja e a secretária e vice-coordenadora do Grupo de Mulheres Quilombolas Na Raça e Na Cor, Miriane Coelho, apresentaram brevemente sobre a história e organização da FOQS. Em seguida a coordenadora do Projeto Omulu – Terra de Quilombo, Marluce Coelho apresentou os objetivos e atividades da parceria com a ProEpi e direcionou o cadastramento da plataforma digital da ProEpi. O projeto contará com a participação de 09 jovens e 03 tutores.

Miriane Coelho apresentando a organização da FOQS
Foto: Aldo Lima (2021)

Mário Pantoja apresentando a história da FOQS
Foto: Aldo Lima (2021)


Foi um bonito encontro cheio de muita autoafirmação e autoconhecimento étnico. A primeira formação com a ProEpi inicia neste dia 26 de outubro de forma virtual. A FOQS e o Projeto Omulu estão muito felizes com essa nova parceria e animados para que os/as jovens possam inserir-se e abraçar os processos comunicacionais fortalecendo, assim, cada vez mais o movimento quilombola de Santarém e possibilitando criar o panorama da COVID-19 nos territórios quilombolas.

Aldo Lima dinamizando a temática sobre ancestralidade, identidade e comunicação.
Foto: Marluce Coelho (2021)

 

Marluce Coelho, coordenadora do Projeto Omulu, apresentando os objetivos e atividades da parceria junto à ProEpi
Foto: Aldo Lima (2021)



Por Aldo Luciano Corrêa de Lima

Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba

 

#foqs

#omuluterradequilombo

#cuidandodevidasancestrais

#proepi


terça-feira, 12 de outubro de 2021

FORTALECIMENTO CULTURAL DO QUILOMBO ARAPEMÃ

Desde o fim de 2019, com mais intensidade, o quilombo Arapemã vem investindo recursos humanos e financeiros no fortalecimento de sua cultura. Com o apoio do Edital de Pontos e Pontões de Cultura da Lei Aldir Blanc, do estado do Pará, o Edital Abraçando os Pontos de Cultura do Pará, com apoio da VALE e através do Ponto de Cultura Kizomba tem sido possível a realização desse fortalecimento. 


Na coordenação de Aldo Luciano Corrêa de Lima, antropólogo e produtor cultural, o Ponto Kizomba tem se revigorado estruturalmente e em suas ações culturais entre os quilombos de Santarém, do qual representa as manifestações e expressões culturais quilombolas. Atualmente o Ponto Kizomba também conta com a assessoria de Marluce Coelho e Miriane Coelho e tem como direção maior, uma vez que o Ponto Kizomba é um organismo dentro da FOQS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém, o senhor Mário Augusto Pantoja.
 
Oficina de rememoração - Grupo Magia de Carimbó (21.11.2020). Quilombo Arapemã/Santarém-PA.
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2020)


Oficina de rememoração - Grupo Magia de Carimbó (21.11.2020). Quilombo Arapemã/Santarém-PA.
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2020)


Oficina de rememoração - Grupo Magia de Carimbó (21.11.2020). Quilombo Arapemã/Santarém-PA.
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2020)


Para cumprimento do projeto apresentado para o supracitado edital, nominado de ESPETÁCULO BEIRA DO RIO, foi ainda necessária a parceria de muitos grupos e pessoas. O Espetáculo Beira do Rio é composto pelo Grupo Magia de Carimbó, Grupo de Capoeira Força do Negro, Grupo Pretinhas do Arapemã e a cantora Cleide Vasconcelos. Esses grupos juntamente com a diretoria da Associação Comunitária de Remanescentes de Quilombo de Arapemã – ACREQARA e a Escola Municipal de Ensino Fundamental N. Sra. Santana somaram forças à implementação do projeto.

Oficina de Carimbó. Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)



Oficina de Carimbó. Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina de Carimbó. Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Ao longo desses dois anos foram realizadas 03 reuniões (18.11.2020; 28.12.2020 e 10.01.2021) com a diretoria da ACREQARA e com a escola, sendo uma delas de forma ampliada, com a participação de todos os demais comunitários (10.01.2021). Foram ainda realizadas 03 oficinas de rememoração e fortalecimento das manifestações culturais quilombolas. A primeira ocorreu no dia 21.11.2020 com a oficina de carimbó onde foi feito a rememoração histórica e de organização do grupo. Foi ainda discutido sobre a patrimonialização do carimbó e os estudos realizados pelo IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Oficina de Capoeira. Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina de Capoeira. Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Já no dia 11.12.2020 foi a vez do grupo de capoeira Força do Negro realizar sua oficina e no dia 19.12.2020 a oficina com o grupo de Pretinhas do Arapemã. Todas as oficinas tiveram como objetivo realizar esse momento de rememoração histórica e organizacional, tendo como base de reflexão a trajetória de cada grupo e o que foi produzido pelo IPHAN. Essas primeiras oficinas dedicadas aos participantes dos próprios grupos foram de fundamental importância para o revigoramento das manifestações culturais e para o seu fortalecimento. 

Oficina das Pretinhas do Arapemã.
 Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina das Pretinhas do Arapemã.
 Escola N. Sra. Santana. Quilombo Arapemã (13.05.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Após meses de ensaio, mesmo com muitas dificuldades em decorrência da pandemia, o Espetáculo Beira do Rio foi gravado, uma vez que não foi permitida a realização de atividades com a presença de grande público. Dessa forma foi realizada uma produção audiovisual que está disponível nas redes sociais do Ponto de Cultura Kizomba. Para assistir ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wMq5vQDUqn8

Oficina de Carimbó com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina de Carimbó com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Dando seguimento às atividades do projeto ainda foram realizadas duas vivências culturais. A primeira ocorreu no dia 13.05.2021, na escola municipal de ensino fundamental N. Sra. Santana, no próprio quilombo Arapemã, onde o grupo de capoeira Força do Negro, o grupo Magia de Carimbó e o grupo Pretinhas do Arapemã pudera compartilhar e realizar a vivência cultural de suas expressões para alguns alunos da escola. No mês seguinte, em 07.06.2021, foi a vez do quilombo Saracura. Lá o Espetáculo Beira do Rio contou com a parceria da Associação Comunitária de Remanescestes de Quilombo de Saracura – ACREQSARA e a Escola Municipal de Ensino Fundamental N. Sra. do Livramento. Partes do espetáculo ainda foram apresentadas no II Seminário de Cultura Quilombola realizado no dia 09.07.2021, na sede da FOQS e do Ponto de Cultura Kizomba, na cidade de Santarém. 

Oficina das Pretinhas do Arapemã com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina das Pretinhas do Arapemã com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina de Capoeira com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Oficina de Capoeira com alunos da Escola N. Sra. do Livramento
. Quilombo Saracura (07.06.2021)/Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Aldo Lima, 2021)


Espera-se que a organização e fortalecimento cultural de Arapemã seja inspiração para os demais quilombos de Santarém e que a revolução e a resistência negra continuem ocorrendo por meio da cultura.
Apresentação das Pretinhas do Arapemã no II Seminário de Cultura Quilombola (09.07.2021) - Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Jaime Carvalho, 2021)


Apresentação das Pretinhas do Arapemã no II Seminário de Cultura Quilombola (09.07.2021) - Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Jaime Carvalho, 2021)


Apresentação do Grupo Magia de Carimbó no II Seminário de Cultura Quilombola (09.07.2021) - Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Jaime Carvalho, 2021)


Apresentação do Grupo Magia de Carimbó no II Seminário de Cultura Quilombola (09.07.2021) - Santarém-PA
Foto: Acervo Ponto de Cultura Kizomba (Jaime Carvalho, 2021)



“ESTE PROJETO É APOIADO PELA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA, COM RECURSOS PROVENIENTES DA LEI FEDERAL N.º 14.017, DE 29 DE JUNHO DE 2020”

Edital Pontos e Pontões de Cultura - Aldir Blanc Pará

Por Aldo Luciano Corrêa de Lima
 (antropólogo, produtor cultural e coordenador do Ponto de Cultura Kizomba)

domingo, 6 de junho de 2021

GRIÔS DA TERRA - ANCESTRALIDADE E MEMÓRIA DO QUILOMBO PATOS DO ITUQUI

 

O griô Tobias e as contações de histórias . Quilombo Patos do Ituqui, 2021.
Contação de histórias. Quilombo Patos do Ituqui. Santarém/PA
Foto: Jaime Carvalho, 2021.

O quilombo Patos do Ituqui, localizado nas mediações do lago Maicá, em Santarém – Pará,  tem suas reminiscências históricas coloniais que remontam à fazenda escravocrata Taperinha. As experiências de sofrimento e trabalho escravo inflingida às famílias negras escravizadas até o final do século XIX na região do planalto santareno ainda possuem reverberações nos dias atuais.

“A avó de vocês, Maria de Lourdes, nasceu em Taperinha. Os pais dela eram escravos. Quando foi vendida a Taperinha, acabou a escravatura. Aí ficaram eles como escravos...sempre ficaram lá”.

“Ela mandou que fossem embora, não deu remo, não deu nada. Eles foram empurrando a canoa de vara nesse Maicá, nesse Iayá...depois ela mandou tacar fogo nas casas deles”.

“Depois que eles foram expulsos da Taperinha, se acamparam na ilha do Marajó. O seu Lauro sabendo que eles estavam de bebê novo, disse pra eles escolherem um lugar nos limites dele. Eles demoraram três dias cortando picada aí nesse Maicá, até chegar aqui”.

“Seu Lauro perguntou pra eles o que tinham achado mais bonito aqui. Ele falou: ‘Dotô, o que eu achei bonito nesse lugar são esses patos’. Assim surgiu o nome. Primeiro ‘os Patos’, depois só ‘Patos’. ‘Então o nome desse lugar vai ser Patos’”.

(Seu Tobias, Quilombo Patos do Ituqui)

 

Narrar a história de Patos do Ituqui é trazer à tona um pouco da narrativa de escravidão ocorrida na fazenda Taperinha. É olhar para o passado através da perspectiva dos filhos e filhas daqueles e daquelas que foram escravizados ou estiveram em trabalhos análogos à escravidão até o século passado.

“A gerente de lá mandou chamar o papai. Ela queria castanha nova (castanha do Pará). Queria que ele trepasse na castanheira pra pegar a castanha.  O papai disse que não porque nunca tinha trepado e não sabia subir na castanheira. Ela falou que ele tinha que ir: ‘Não, tem que ser agora, tem que ser agora!’ Aí, ele meio cismado, trepou até um pedaço, quando ele não aguentou mais, ele se jogou de lá. Nessa jogada dele, ele se quebrou todinho. Eles não deram assistência, só disseram pro meu avô vir buscar o papai”.

(Seu Tobias, Quilombo Patos do Ituqui)

 

            Relatos chocantes como esse do pai de Seu Tobias que aos 37 anos foi persuadido a fazer o que não queria por conta de sua condição de “trabalhador” e dependente da fazenda Taperinha o levaram a esse episódio trágico que o levou à morte trinta anos depois em decorrência de inúmeras complicações dessa queda e de um câncer. Foram 30 anos de sofrimento ocasionados por esse episódio em pleno século XX.

GRIÔS DA TERRA - ANCESTRALIDADE E MEMÓRIA DO QUILOMBO PATOS DO ITUQUI, mas do que simplesmente – o que não é simples – trazer memórias, algumas delas de sofrimento, é uma iniciativa de mostrar o quanto as famílias negras conseguiram resistir e lutar contra a escravidão e, hoje, através dessas narrativas conseguem articular e consolidar sua identidade, sua ancestralidade, por meio da contação de histórias realizada pelas pessoas mais idosas e adultas junto às crianças do quilombo.

“Quando vocês crescerem, vocês vão contar essas histórias como eu falei pra vocês. Já tão tudo sabendo”

(Seu Tobias, Quilombo Patos do Ituqui)

 

Algo muito presente nas narrativas são o desejo de alcançar os direitos que lhe cabem, principalmente o territorial. Cada conquista de direito é celebrada e lembrada com muito orgulho e isso é transmitido para os mais jovens.

Família Almeida. Quilombo Patos do Ituqui. Santarém/PA
Imagem: Jaime Carvalho, 2021.


“É importante  pra nós aprender a ocupar os nossos espaços. Isso daí a gente vem trazendo. Como os nossos antepassados não tiveram esses direitos, nós estamos conquistando eles...”

“Sabendo a história, lá atrás,  dá cada vez mais vontade de lutar e ocupar nosso espaço, porque lá atrás, alguém pagou o preço por isso e não é nada mais que justo a gente ocupar nossos espaços e conseguir nossos direitos”

(Gilmar Nogueira, Quilombo Patos do Ituqui)

 

Patos do Ituqui é um quilombo vocacionalmente conflitivo em decorrência de sua trajetória histórica. Sua questão territorial continua incomodando a muitos a ponto de inflingir ameaças de morte a uma das lideranças do quilombo até pouco tempo. No entanto, também é um lugar de quilombolas sempre agradáveis e acolhedores, entre eles o prestimoso “Seu Tobias”, sempre disposto a conversar e contar inúmeras histórias a quem chega ao quilombo.

O griô Seu Tobias. Quilombo Patos do Ituqui. Santarém/PA
Foto: Jaime Carvalho, 2021


Com uma rica biodiversidade, mesmo cercado de latifúndios, as águas do lago Maicá que banham o quilombo, é um convite à parte para o desfrute de um refrescante banho do grande trapiche, em dias ensolarados do inverno amazônico. E não é só isso que é rico. Há muitas histórias fruto da experiência do cotidiano que os quilombolas aprenderam com seus antepassados e que vem sendo repassadas de pais para filhos, como podemos ver adiante.

“Eu quando criança, vi a minha mãe...ela saía pra lavar roupa no igarapé e aí quando era final de semana se juntava muitas mulheres, desciam pro igarapé pra lavar roupa e a gente descia pra ficar junto...Tinha uma senhora que o esposo dela não ligava muito pra ela, pra casa, pra família, ele não se ligava muito. E aí ela descia pra lá também pra lavar as roupas dela. Como ela não tinha o sabão pra lavar as roupas dela e era muita criança que ela tinha, era muita roupa. Aí ela saia pedindo. Ela dizia pras amiga, colegas lá: ‘Ô minha mana, me dá uma passada do teu sabão aí?’ E assim ela ia dizendo pras outras...até que ela ia conseguindo lavar todas as roupa dela. Aí as outras amigas às vezes diziam: ‘Mas ela não trouxe sabão, coitada! Vamo dá pra ela o sabão’. E assim ela conseguia lavar e manter as roupas dos filhos dela limpa”.

(Célia, Quilombo Patos do Ituqui)

 

Ano passado a ARCQUIPATOS – Associação Remanescente da Comunidade Quilombola de Patos do Ituqui foi contemplada pela Lei Aldir Blanc de emergência cultural, como espaço cultural, no município de Santarém, e por meio ação GRIÔS DA TERRA - ANCESTRALIDADE E MEMÓRIA DO QUILOMBO PATOS DO ITUQUI vem demonstrando um pouco de sua produção cultural e dos saberes compartilhados pelos seus griôs, mestres e mestras do saber, da contação de histórias sobre o quilombo, que em breve será mostrando em forma de etnodocumentário. É por meio deles e delas que a identidade cultural do quilombo se reafirma e se consolida cotidianamente.

Banho do trapiche. Quilombo Patos do Ituqui. Santarém/PA.
 Foto: Jaime Carvalho, 2021.

O etnodocumentário GRIÔS DA TERRA - ANCESTRALIDADE E MEMÓRIA DO QUILOMBO PATOS DO ITUQUI é uma produção da ARCQUIPATOS em parceria com o Ponto de Cultura Kizomba e a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém – FOQS e com o apoio da Lei Aldir Blanc – Pará, implementada pela Secretaria de Estado de Cultura do Pará (SECULT), em âmbito local por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Santarém e em âmbito Federal por meio da Secretaria Especial de Cultura e Ministério do Turismo.

 

 

 

 

 

Por Aldo Luciano Corrêa de Lima[1]

 



[1] Antropólogo; Produtor Cultural; Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba e assessor de projeto da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém – FOQS.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

NOTA DE PESAR - EUZÉBIO GOMES DE JESUS

 A Federação das Organizações Quilombolas de Santarém - FOQS quer prestar seus sinceros sentimentos aos familiares e amigos de EUZÉBIO GOMES DE JESUS, que hoje fez sua páscoa para o Reino definitivo. Ele que foi um prestimoso colaborador e parceiro da FOQS ao longo desses anos, colocando seus conhecimentos contábeis à serviço dessa organização.



sexta-feira, 21 de maio de 2021

BEIRA DO RIO, UM ESPETÁCULO DA VÁRZEA QUILOMBOLA

Grupo Magia de Carimbó


Já há alguns anos o quilombo de Arapemã sempre se mostrou parceiro e participativo das ações promovidas pelo Ponto de Cultura Kizomba, Ponto de Cultura reconhecido pelo Ministério da Cultura por meio de edital da Secretaria de Cultura do Estado do Pará, SECULT em 2008. Em meados de 2009 e 2010 as manifestações culturais Pretinhas do Arapemã e a cantora Cleide Vasconcelos marcaram presença em diversos eventos promovidos ou com a participação do Ponto de Cultura Kizomba naqueles anos.

Dez anos depois, em um contexto de pandemia, a Busca Ativa realizada pela SECULT para ingresso de manifestações culturais quilombolas no Mapa Cultural do Estado do Pará e acesso aos recursos da Lei Aldir Blanc de emergência cultural possibilitaram uma nova rearticulação das manifestações culturais existentes no quilombo de Arapemã.

Primeiro por meio do edital Abraçando os Pontos de Cultura do Estado do Pará realizado pela Academia Paraense de Música, parceria com a Rede Ajuricaba de Pontos de Cultura e com o patrocínio da Vale, depois por meio do edital para Pontos de Cultura da Lei Aldir Blanc do Estado do Pará. Juntos esses recursos subsidiaram o fomento e fortalecimento das práticas culturais dos grupos Magia de Carimbó, Capoeira Força do Negro, Pretinhas do Arapemã e a cantora Cleide Vasconcelos.

Pretinhas do Arapemã


Foram meses de preparação e ensaios, mesmo em tempos difíceis. O espetáculo passou por dois lockdowns em Santarém e um bandeiramento vermelho no Estado todo. Foi difícil concluir as atividades previstas, mas como na cultura tudo se reinventa, outras alternativas foram sendo estabelecidas para a sua realização. Mesmo sem a presença do público e depois da vacinação realizada no território quilombola, o espetáculo foi gravado para estar posteriormente disposto em canais digitais para que a população possa assistir. Em um futuro breve, assim esperamos, o espetáculo será exibido para o quilombo Saracura de forma presencial.

De 04 a 07 desse mês, foram realizadas as gravações do espetáculo e as entrevistas para a produção do documentário sobre o mesmo, que por sua vez conta com o apoio do SESC Belém por meio de edital financiado pela Aldir Blanc. A primeira noite contou com a participação do Grupo de Capoeira Força do Negro com os seus quase 14 participantes. Muitas acrobacias e gingas foram realizadas nessa linda e energética apresentação. A segunda noite contou com os incansáveis jovens do Grupo Magia de Carimbó, que levou seus 12 componentes para uma linda apresentação. A terceira noite foi abrilhantada com a apresentação do Grupo Pretinhas do Arapemã e da cantora Cleide Vasconcelos que trouxeram a força e a cultura das mulheres quilombolas.

Grupo de Capoeira Força do Negro


O BEIRA DO RIO é mais que um espetáculo, ele é a síntese da vivência cultural do quilombo Arapemã, localizado na região de várzea. É a expressão do processo de adaptação às dinâmicas das águas, sua sazonalidade e de uma criativa maneira de lidar com as dificuldades cotidianas e celebrar a vida. Faz parte ainda do espetáculo as oficinas realizadas juntos aos alunos da escola local, onde cada manifestação cultural pode compartilhar o seu saber cultural local.

O espetáculo foi dirigido por Aldo Luciano Corrêa de Lima (Antropólogo, Produtor Cultural e Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba) e co-produzido por Marluce Coelho (Produtora Cultural e Assessora do Ponto de Cultura Kizomba). Contou com a gravação e registro fotográfico de Jaime Carvalho e a iluminação e parte da cenografia do Grupo Franciscano de Teatro Kabi Kaxi. Teve ainda a participação da Banda Swing Prime, do quilombo Saracura, que acompanhou a apresentação de Cleide Vasconcelos.

Cantora Cleide Vasconcelos


Nossos agradecimentos às quatro manifestações culturais que aceitaram o desafio de promover, fortalecer e difundir a cultura quilombola de Arapemã. À direção da escola municipal N. Sra. Santana que cedeu sua infraestrutura para hospedagem da equipe de trabalho e gravação do espetáculo. À Associação Comunitária de Remanescentes de Quilombo de Arapemã – ACREQARA, que incentivou as manifestações e apoiou o Ponto de Cultura Kizomba. Ao apoio comunitário oferecido por alguns quilombolas que possibilitaram a logística das gravações das entrevistas. A todo mundo que colaborou, nosso muitíssimo obrigado.

 “ESTE PROJETO É APOIADO PELA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA, COM RECURSOS PROVENIENTES DA LEI FEDERAL N.º 14.017, DE 29 DE JUNHO DE 2020”


Edital Pontos e Pontões de Cultura - Aldir Blanc Pará

 Por Aldo Luciano Corrêa de Lima, antropólogo, produtor cultural e coordenador do Ponto de Cultura Kizomba.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

VACINA CONTRA A COVID-19 CHEGARÁ AOS QUILOMBOS DE SANTARÉM - PARÁ

Amanhã incia-se a vacinação contra a COVID-19 nos territórios quilombolas de Santarém, no Pará. Serão destinadas 6.770 doses da Vacina Astrazeneca para os 12 territórios. No último 26 de abril a FOQS esteve reunida com a SEMSA - Secretaria Municipal de Saúde de Santarém, Conselho Municipal de Saúde, representação da Unidade Básica de Saúde do quilombo Tiningu, Terra de Direitos e outras instituições para definirem as estratégias e calendário da vacinação.


Conforme socializou Magno, da Malungu - Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará,

"Após lutas e lutas do Movimento Quilombola Nacional com a soma de esforços do movimento nos estados e municípios, que decidiu pela apresentação da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental junto ao STF (APF 742), da CONAQ e outras organizações.  Aos poucos vamos sendo vacinad@s. (Com uma lentidão imensa). 

Feitas essas considerações, sigo dizendo que as vacinas chegaram aos municípios e chegarão em outros.  Não por vontade política de gestores e sim por lutas encampadas por todas e tod@s nós. 

Não deixar que determinadas pessoas assumam a paternidade das lutas da CONAQ, DA MALUNGU,  DAS ASSOCIAÇÕES DE CADA UMA DAS COMUNIDADES DO BAIXO TOCANTINS, DO MARAJÓ, DO BAIXO AMAZONAS, DE TODO O PARÁ E DE TODO O BRASIL. 

NÓS LUTAMOS, NÓS CONSEGUIMOS. SE NÃO FOSSE ASSIM, SERÍAMOS VACINADOS PROVAVELMENTE NO FIM DO ANO OU MAIS TARDE.

LEMBREM-SE! JÁ PERDEMOS 91 IRMÃOS QUILOMBOLAS SOMENTE NO PARÁ E TIVEMOS MILHARES DE INFECTADOS. MUITOS SEQUER PUDERAM TER A DIGNIDADE DE UMA SIMPLES CONSULTA MÉDICA."

Em Santarém, não foi muito diferente, já algum tempo vem-se tentando dialogar com a SEMSA sobre essa questão. Finalmente nesse último dia 26 de abril conseguiu-se dar os encaminhamentos necessários para viabilizar a vacinação contra a COVID-19 nos 12 territórios quilombolas de Santarém. As lideranças quilombolas estão esperançosas de que grande parte do território seja logo imunizado garantido segurança para as famílias quilombolas.


#QuilombolaVacinadoTerritórioImunizado

#VidasancestraisImportam

#CompartilheInformação

#CompartilheSaúde

 

 

Santarém, 03 de maio de 2021.

Por Aldo Luciano Corrêa de Lima[1]



[1] Antropólogo; Produtor Cultural; Coordenador de Formação da OFS Regional Norte 3 – Pará Oeste; Assessor de Projetos da FOQS e Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba.


terça-feira, 27 de abril de 2021

VACINAÇÃO CONTRA O NOVO CORONA VÍRUS É FOCO DE NOVA CAMPANHA DO PROJETO OMULU – TERRA DE QUILOMBO


Cartaz da nova Campanha.

O projeto Omulu – Terra de Quilombo fez lançamento, nesse dia 19 de abril, de nova campanha, nesse período de pandemia, só que agora com o foco voltado para a importância da vacinação de todo o território quilombola. O cartaz que traz o slogan QUILOMBOLA VACINADO TERRITÓRIO IMUNIZADO tem como objetivo que todas as pessoas do quilombo recebam a vacinação e que assim o território possa viver em segurança, pois não adianta apenas uma parte dos quilombolas serem vacinados deixando em vulnerabilidade outros sujeitos que fazem parte da família quilombola.

Lideranças quilombolas no lançamento da Campanha Pró-Vacinação

O cartaz traz ainda alguns quilombolas bastante representativos para todo o movimento quilombola de Santarém. O senhor Aldo Santos, do quilombo Saracura é um deles. Aldo é uma das primeiras lideranças quilombolas que contribuiu na articulação e fortalecimento identitário e associativo dos quilombos de Santarém. Hoje, com a saúde debilitada ainda consegue se tornar presente na casa de cada quilombola trazendo a mensagem de que todos e todas precisam ser vacinados e vacinadas, aliás, essa é a mensagem central que em imagem que o cartaz mostra...todos e todas precisam ser vacinados e vacinadas, é o que demonstra o gesto dos dedos apontando para o braço.


Miriane Coelho, secretária da FOQS explanando sobre a nova etapa do projeto


Dona Marcionília, mas conhecida carinhosamente como “Dona Mocinha” representa o saber ancestral e os cuidados que a mulher quilombola traz como resistência e resiliência. Dona Mocinha representa todo o saber ancestral, o saber das griôs, cujo reconhecimento foi dado pelo Ministério da Cultura a ela em meados de 2008.

A jovem Jucimara Oliveira, Vice-Presidenta da FOQS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém, está simbolizando toda a luta das mulheres quilombolas de Santarém, sua força e cuidado para com o quilombo. Seu filho, Fernando, representa toda a esperança e continuidade da luta quilombolas. Todos e todas anseiam a vacina para todo o território quilombola.

As paisagens da várzea são do quilombo Arapemã, representando a riqueza natural e que ao mesmo tempo, apresenta suas nuances de vulnerabilidade, principalmente nesse contexto de pandemia. A vacinação coletiva, como tem sido discutido em nível estadual com organizações como a MALUNGU – Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará e até mesmo nacionalmente, com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas –CONAQ, é a solução para dar segurança à saúde da população quilombola e de seus territórios.


#QuilombolaVacinadoTerritórioImunizado

#VidasancestraisImportam

#CompartilheInformação

#CompartilheSaúde

 

 

Santarém, 19 de abril de 2021.

Por Aldo Luciano Corrêa de Lima[1]



[1] Antropólogo; Produtor Cultural; Coordenador de Formação da OFS Regional Norte 3 – Pará Oeste; Assessor de Projetos da FOQS e Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba.