terça-feira, 28 de março de 2023

DUPLA DE PALHAÇAS "LAS CABAÇAS" SE APRESENTA EM QUILOMBOS DE SANTARÉM

 


Inicia nesta terça-feira, 28 de março, a circulação do espetáculo Semi-Breve em duas áreas que abrigam quilombos, em Santarém: na várzea e no planalto. “A ideia de circular pelas duas regiões é uma forma de democratizar o espetáculo cênico nos quilombos”, afirmou Aldo Luciano Corrêa de Lima, coordenador do Ponto de Cultura Kizomba, coletivo que articula as políticas públicas culturais dos territórios quilombolas de Santarém. “A ideia de circulação e a articulação do espetáculo nasceu de uma conversa entre a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), Ponto de Cultura Kizomba e Marina Quinan, das Las Cabaças”, completou Aldo.  

Na Várzea - A primeira apresentação será no quilombo da comunidade de Nova Vista do Ituqui, no entorno de Santarém, às 9h. Nesta quarta-feira, 29 de março às 9h a dupla se apresenta no quilombo Saracura, também na área de várzea. Na quinta-feira, dia 30, às 9h a dupla levará o espetáculo Semi-Breve para a comunidade de Arapemã. Todas as apresentações são abertas ao público, contam com tradução em libras e são de graça.

O espetáculo é uma criação da dupla formada pelas atrizes Marina Quinan e Juliana Balsalobre, que estão circulando pela região Oeste do Pará. Já passaram pelas cidades de Monte Alegre e Alenquer, no início do mês de março.  





No planalto Santareno – Confira a agenda de apresentações nos quilombos localizados na área do planalto durante o mês de abril: no dia 19/4 a apresentação será no quilombo Bom Jardim, no dia 20/4, no quilombo Murumurutuba e no dia 21/4, a dupla se apresenta no quilombo Tiningu. As apresentações ocorrem nas escolas e/ou associações dos quilombos.

“Somando-se ao espetáculo também serão realizadas duas oficinas de teatro e educação que serão realizadas com os professores das escolas quilombolas de Saracura e Murumurutuba, o que torna o Semi-Breve uma ferramenta de democratização das artes cênicas e de sua utilização no espaço escolar”, comemorou Corrêa de Lima.





Sobre os Quilombos - Em Santarém há 13 quilombos e desses, seis foram escolhidos para a circulação do espetáculo Semi-Breve. Três estão localizados na área de várzea: Nova Vista do Ituqui, Saracura e Arapemã; e três estão na área do planalto santareno:  Bom Jardim, Murumurutuba e Tiningu. 

O quilombo Nova Vista do Ituqui, localizado no rio Ituqui, abriga 47 famílias. No quilombo Saracura vivem 170 famílias e no Arapemã, são 90 famílias. Para todos eles o acesso é somente de barco e estão distantes cerca de 2h de barco, do centro urbano da cidade de Santarém.

Sobre o espetáculo Semi-Breve: É composto por cinco esquetes de palhaçaria. O título faz uma brincadeira com a figura rítmica, pois quando as palhaças vão tocar uma música, surge uma pulga na partitura. A pulga é Elvis, já velha conhecida da dupla. Ela acaba atrapalhando, também quer fazer um grande show. Bifi e Quinan demonstram seus dotes, ou melhor, suas inaptidões. Quinan tenta fazer uma mágica e Bifi mostra do que é capaz e faz seu magistral “Salto no copo d'água”. Como nada dá muito certo as duas partem para uma disputa em "Os nomes dos Santos".

 


Todas as apresentações teatrais são abertas ao público e gratuitas, para tanto, o Projeto conta com o patrocínio da rede Atacadão, via Lei Federal de Incentivo do Ministério da Cultura. A realização é da Associação Cultural Namazônia, com sede em Belém.   

 

 

Assessoria de Imprensa – Las Cabaças

(93) 99156-9577

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

BARIMBATUQUES – CAPOEIRA ANGOLA E AGROECOLOGIA NOS QUILOMBOS DE SANTARÉM


N
este último sábado, 26 de novembro, no quilombo de Murumuru, houve a culminância do projeto BARIMBATUQUES - CAPOEIRA ANGOLA E AGROECOLOGIA, desenvolvido pelo Coletivo Acotirene de Capoeira Angola, com apoio do Edital Preamar de Cultura e Arte, da Secretaria de Cultura do Estado do Pará – SECULT.  O projeto foi desenvolvido nos quilombos de Murumuru e Tiningu, ambos localizados no planalto santareno.








O Coletivo Acotirene de Capoeira Angola é uma iniciativa que tem como objetivo estudar a capoeira angola e contribuir para o fortalecimento da identidade afro-brasileira. No período de maio a novembro deste ano, o projeto Barimbatuques realizou “atividades práticas e teóricas de capoeira angola, musicalidade, identidade, gênero, agroecologia com plantação de cabaças e revitalização da horta escolar com o intuito que a capoeira seja um instrumento de transformação social dentro dos espaços de matriz africana. Nos territórios quilombolas de Santarém participaram 30 adolescentes e jovens que apresentaram a orquestra experimental de berimbau e uma roda de capoeira”, afirmou Taciana Miranda, professora de capoeira angola e proponente do projeto.






Ressalta ainda que “o projeto deve ser uma ferramenta de transformação, de fato, de uma semente que a gente está plantando e que isso possa se reverberar para outras comunidades quilombolas aqui no território santareno, tendo em vista que o Pará é preto, ele é afro e a gente está em um processo de resistência e existência, como um todo”.

Para Steve Fernando, contramestre de capoeira angola, oficineiro e também idealizador do projeto, todas as atividades foram desenvolvidas dentro do “universo da capoeira angola, sua história, os primeiros mestres e a linhagem que o Coletivo Acotirene de Capoeira Angola segue”, que é a do Mestre Pastinha, enfatizou Steve. Disse ainda que, o objetivo das atividades era “desenvolver cultura na localidade e agroecologia nos territórios quilombolas, que são bastante diversos”, enfatizou.







Nesse processo de construção das atividades e do projeto a participação das lideranças quilombolas, como Caetana Bentes, presidenta da ARQMU (Associação de Remanescentes de Quilombo de Murumuru) e de Rosete Pereira, agente cultural, do Quilombo Tiningu, foi de grande importância na mobilização e organização local. Nesse sentido, o projeto contou com a anuência da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém - FOQS, do Ponto de Cultura Kizomba, que é responsável pela produção cultural nos dozes territórios quilombolas de Santarém e das associações ARQMU, do Quilombo Murumuru e da ARQUITININGU (Associação de Remanescentes de Quilombo de Tiningu), do Quilombo Tiningu.

Caetana Bentes enfatizou que o projeto de capoeira foi importante para os quilombos porque contribuiu para o fortalecimento do movimento quilombola e da cultura dos afrodescendentes. O Barimbatuques contou com a parceria, da FOQS, do Ponto de Cultura Kizomba, da ARQMU, da ARQUITININGU, das escolas quilombolas Afro Amazônida e São João, por meio da Divisão de Educação Escolar Quilombola (DEEQ/SEMED), do Angolarte Capoeira, do Projeto Saúde & Alegria e o Instituto de Permacultura Luz do Sol – Mojuí dos Campos – Pará. Após a realização da culminância o projeto ainda reuniu nesta segunda-feira, dia 28.11 para realizar uma avaliação com a coordenação dos quilombos e o Ponto de Cultura Kizomba, onde puderam ser encaminhadas as perspectivas de continuidade do projeto para o próximo ano.









Por Aldo Luciano Corrêa de Lima

Antropólogo e produtor cultural

Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

AQUILOMBAR NA EDUCAÇÃO: IDENTIDADE E LUTA

 




AQUILOMBAR NA EDUCAÇÃO: IDENTIDADE E LUTA foi o tema escolhido pela Federação das Organizações Quilombolas de Santarém – FOQS e Secretaria Municipal de Educação e Desporte (SEMED) por meio da Divisão de Educação Escolar Quilombola (DEEQ) para ser discutido no encontro de consciência negra das escolas quilombolas do município. O encontro ocorreu no último dia 16, com a participação de discentes, docentes e corpo gestor de escolas quilombolas e da área urbana do município de Santarém, na sede do SINPROSAN (Sindicato dos Profissionais de Educação de Santarém).

O encontro foi marcado pelo compartilhamento de saberes de griôs e lideranças quilombolas, que tiveram a oportunidade de socializar a sua trajetória de luta por políticas públicas voltadas para a educação nos territórios quilombolas. As escolas quilombolas tiveram grande participação por meio da mostra cultural de culminância sobre a consciência negra realizada na quadra do SINPROSAN enquanto as manifestações culturais eram apresentadas no auditório, das quais tiveram destaque os grupos Pretinhas do Arapemã, Magia de Carimbó e a cantora Cleide Vasconcelos, do quilombo de Arapemã; o Grupo Pérola Negra, do quilombo Saracura; as Pretinhas de Angola, do quilombo São Raimundo; o Grupo Ogum ginga no quilombo, do quilombo Bom Jardim; a dança Jerusalema, do quilombo Murumuru e as histórias contadas por Joana Mota uma griota, do quilombo Tiningu.










A programação discutiu sobre a necessidade dos quilombos serem visibilizados e fortalecidos em suas lutas e de que o aquilombamento na educação é uma necessidade constante, uma vez que a população negra teve mais de 400 anos de retiradas de direitos, entre eles o da educação. Somente há um pouco mais de um século é que a população negra quilombola tem conseguido ser reconhecida como sujeito de direito.

Na ocasião estiveram presente o Vereador Biga Kalahare, PT; a Secretária de Educação, Maria José Maia da Silva e os responsáveis pela DEEQ, Leandro Laurindo e Márcio Guimarães, além de outros realizadores e parceiros do evento.








O evento fez a abertura da Semana de Consciência Negra dos quilombos de Santarém, fazendo parte de uma extensa programação que segue com a realização do Seminário sobre a Saúde da População Quilombola, a ser realizado no dia 18.11, no “Madeirão”, do Campus Tapajós, da UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará) e nos dias 19 e 20 com a realização do XVII Encontro das Comunidades Negras de Santarém, no quilombo de Saracura.




Por Aldo Luciano Corrêa de Lima

Antropólogo e produtor cultural

Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba

sexta-feira, 10 de junho de 2022

CORDÃO DE PÁSSARO TACHÃ É PREMIADO PELO EDITAL APOIA 2021 DA CASA DA CULTURA DE CANAÃ DOS CARAJÁS - ICV

 


O Cordão de Pássaro Tachã foi premiado pelo Edital Apoia 2021, da Casa da Cultura de Canaã dos Carajás, com apoio do Instituto Cultural VALE. A premiação reconhece e incentiva as expressões da cultura popular por todo o Brasil. Entre os 132 premiados de todo os 24 estados brasileiros e o Distrito Federal, está o Cordão de Pássaro Tachã, do quilombo Bom Jardim, município de Santarém.

 

Integrantes do Cordão do Tachã.
Foto: Jaime Carvalho, 2021

Um pouco da história do Cordão de Pássaro Tachã[1]

O primeiro cordão de pássaro denominado Tachã em Santarém foi criado no quilombo de Saracura, em meados da década de 1960, por um senhor conhecido como Sabino. Ele escolheu apenas homens para compor o Tachã, em função do tom grave e forte de suas vozes, e passou a ensaiá-los num espaço denominado Casa Branca – um grande barracão todo fechado, feito de madeira e pintado de branco, o qual pertencia à família Coelho[2], proveniente da região de Aracampina, e então residente em Saracura.

O Pássaro Tachã
Foto: Jaime Carvalho, 2021.


A Casa Branca tinha como finalidade a realização das festas do quilombo. Conta-se que Sabino o teria alugado para realizar os ensaios do Tachã a portas fechadas, para que ninguém pudesse ver o grupo antes de ele estar “muito bem ensaiado”. Nessas ocasiões, só os brincantes podiam entrar na Casa Branca, mas o senhor Ribeiro (vulgo Têfo), na época com mais ou menos 10 anos, conseguiu adentrar o espaço por intermédio de seu tio, Lucimar dos Santos, com a condição de que ficasse quieto e sem atrapalhar os ensaios.

Como resultado de tantos ensaios, o Tachã de Saracura chegou a alcançar reconhecimento no quilombo e fora dele. Chamavam atenção os personagens do grupo:

 

“É um grupo de pessoas que se vestiam e representavam na rua, ‘tinha o camponês que era o chefe da quadrilha, tinha assaltado, tinha medico, tinha curador, tinha adivinhão, tudo tinha naquele meio né, cada qual tinha seu papel, e tem ainda’. Acontecia no mês de julho. O cordão era um bloco, mas as pessoas davam o nome de cordão de pássaro. ‘E até eu dizia um dia desses, acho que não é à toa não que nós somos negros já vem de muito tempo’ (risos) [...]”. (INCRA, 2008b, p. 97).

 

Como narrou o senhor Aldo Santos na ocasião de uma entrevista para o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação do quilombo de Saracura, em 2004, o Tachã era considerado um bom cordão de pássaro: “A gente via até por lá essas coisas, os negros do Saracura tão com cordão na rua, o cordão deles é bom”. Sabino, por sua vez, com sua facilidade de compor as comédias e cantigas do cordão de pássaro, foi tido como “um professor, porque tinha uma educação, um saber de berço”. Contudo, apesar do sucesso, o Tachã de Saracura deixou de brincar após um único ciclo de apresentações e foi dado por “morto”.[3]

Nessa época, Ribeiro, que já havia vivido em Belterra e Itaituba, retornou para Santarém e, em seguida, entre 1963 e 1964, transferiu-se para Bom Jardim, com aproximadamente 13 ou 14 anos de idade. Nesse quilombo, então, surgiria, na passagem para a década de 1970,[4] um novo cordão de pássaro Tachã, desta vez organizado por Ribeiro. Afinal, vendo e ouvindo tantos ensaios comandados pelo antigo “professor” e mestre, ele guardou na memória o que viria a reproduzir no seu novo quilombo de morada.

Em função da característica extrovertida de Ribeiro, uma senhora chamada Ana tomou a iniciativa de convidá-lo para ser cabeça[5] do cordão de pássaro que ela desejava “por para brincar”. Ribeiro aceitou o convite e, como cabeça, teve o direito de escolher o nome do pássaro que o cordão deveria adotar. Foi então que se lembrou do Tachã de Saracura, das comédias e cantigas aprendidas durante os ensaios na Casa Branca. Assim, em meados da década de 1970, no quilombo de Bom Jardim, nasceu o novo Cordão de Pássaro Tachã. Era idêntico, mas não era igual. (CUNHA, 2012).


Isabel dos Santos e Raimundo Ribeiro (Mestre do Tachã)
Foto: Jaime Carvalho, 2021.

Era idêntico porque o Tachã de Bom Jardim manteve a estrutura do Tachã de Saracura; estrutura essa que se encontra nas comédias, cantigas, personagens e brincantes[6], de uma forma geral, e que se encontra em uma ordem interna de composição. No entanto, não era igual, porque o Tachã de Bom Jardim fez algumas modificações na composição do grupo: escolheu uma menina (e não um menino, como em Saracura) para carregar o Tachã na cabeça, diante da justificativa de que em Bom Jardim não havia meninos que quisessem dançar ou “voar” com a mesma desenvoltura vista em Saracura; e introduziu uma fila composta por mulheres para formar pares com os homens. Segundo eles, essa medida visava aumentar o número de brincantes quando necessário. Se houvesse poucos espectadores no local onde o Tachã se apresentasse, poucos brincantes eram suficientes para “animar a festa”[7] após a apresentação.

Naquela época, o cordão possuía de 40 a 60 componentes e sempre agregava mais brincantes a cada ciclo festivo, desde os ensaios até as apresentações. Passou a atrair tantas pessoas, que certa vez necessitou de um espaço para ensaiar, livre da interferência de visitantes. Enfim, foi em uma apresentação no barracão de Santo Antônio, na comunidade de Jacamim, que o Tachã foi reconhecido como igual ao de Saracura.

 

Quanto mais nós ensaiávamos mais a notícia corria, e mais gente se aproximava para querer brincar. Quando chegavam, que viam: ‘Rapaz, esse pássaro vai ser muito bonito’. E aí o que aconteceu? O tio Lucimar arrendou, alugou a sede do Santo Antônio, no Jacamim pra fazer uma festa, então a gente ia fazer um ensaio geral lá no Jacamim. Tá. Aí acertamos tudo com os brincante, tava tudo mascado, palhaço... tava tudo bacana, quando foi no dia, vumbora! Chegamos lá [...], [...] aí se preparemo na hora de brincar...espera o carro da cidade..., não chegô. Vamo se apresentar?! Vamos! De lá a gente ia pro Murumurutuba, eu ia pra uma festa..., aí fomo, dancemo, quando foi na hora do irmão dela atirar no pássaro, não tinha onde. Era com pólvora, e pra todo lado que ele rodava tinha gente pendurada, moleque pendurado no caibro e já tinha gente na fila com nós. Ele queria atirar e não tinha onde, já tava passando de hora e a gente repetindo, aí ele atirou no rumo do moleque..., pêi! O moleque deu um grito, né. Quando terminou aí todo mundo aplaudiu. Poxa vida, essa brincadeira tá de tirar o fôlego! Quando nós tiremo a roupa, que a Ana tava guardando, que era pra nós vim embora [...], [...] chegou o carro da cidade, naquele tempo era caminhão que carregava o pessoal pra festa, não era ônibus não, que não tinha. [...] aí o Nem disse: _ Lucimar cadê o pássaro, o Tachã que vai dançar aqui? _ Rapaz, já dançou. _Ah, não, nós quer ver se tá igual o da Saracura! Cadê o cabeça, quem é o dono? Aí me chamaram com a Ana. A Ana não tinha pavulagem. _Bora dançar, Têfo? _Vamo! Aí chamei todo mundo, assoprei o refiri, todo mundo. _Vamos se vestir rápido! Ai foi que deu gente... que nós não podia nem dançar. Rapaz, quando terminou, foi aplauso, me carregavam e ... _Pelo amor de Deus! Rapaz, tá igual o pássaro da Saracura [...] (Raimundo Ribeiro dos Santos; 64 anos; comunidade quilombola de Bom Jardim; 13.04.2015, grifo nosso)

 

Isabel dos Santos (Quintino)
Foto: Jaime Carvalho, 2021.

Ao contrário do que ocorreu em Saracura, em Bom Jardim o Tachã completou uns cinco ou seis ciclos festivos.
[8] Sua última retomada de apresentação, em 2005 aproximadamente, fora organizada, entre outros objetivos, para fazer frente à afirmação do RTID de que havia no quilombo “uma forte invasão de outras culturas e afastamento da cultura original dos escravos na questão do folclore”.

Após esse ocorrido, o Cordão em 2008, foi premiado por meio do edital do Programa Mais Cultura de Apoio a Microprojetos na Amazônia Legal e em 2013 pelo Prêmio FUNARTE DE ARTE NEGRA. Em 2010 se apresentou durante o V Fórum Social Pan Amazônico, em Santarém e em 2015, na edição do Arraial de Todos os Santos ocorrido no município de Óbidos.

O Cordão de Pássaro Tachã tem sido o único cordão de bicho ativo, em atividade, por toda Santarém, por isso é muito importante que cada vez mais se fortaleça esse tipo de expressão da cultura popular. E viva a cultura popular! Viva a cultua quilombola viva!

Confira o Etnodocumentário sobre o Cordão de Pássaro Tachã: https://www.youtube.com/watch?v=0gAXIfRRN3o



[1] LIMA, Aldo Luciano Corrêa de. Pássaro Tachã: uma análise de um cordão de pássaro. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal do Oeste do Pará, Instituto de Ciências da Sociedade, Programa de Antropologia e Arqueologia. Santarém, 2015.

[2] Lauro Coelho, Rosa Coelho e Luciana Coelho.

[3] Após as apresentações dos cordões de pássaro (concentradas no mês de junho e, às vezes, julho) costumava-se “matar” o pássaro. Essa morte simbólica encerrava o clico de apresentações do cordão naquele ano, mas era possível que em outro ano – não necessariamente no ano seguinte – o cordão fosse posto novamente para brincar. No caso do Tachã de Saracura, isso não mais ocorreu.

[4] Não se tem a data exata de criação do cordão em Bom Jardim. O próprio Ribeiro indica as décadas de 1960-1970 como período de origem do grupo.

[5] O cabeça tem a função de conduzir o cordão durante a apresentação e de coordenar o grupo de forma geral. No caso de Ribeiro além dele ter se tornado o cabeça ou amo do Tachã, ele também tornou-se o cabeça da fila dos homens, que também possui a função de conduzir esta fila.

[6] O termo brincante é usado em várias expressões culturais populares comumente chamadas, na literatura sobre o folclore brasileiro, de folguedos, danças dramáticas ou brincadeiras (CARVALHO, 2011). Como essa autora afirma sobre o contexto do bumba meu boi, o termo é genericamente aplicado aos integrantes dessas expressões. Neste trabalho, porém, refletindo o uso local do termo, por brincante referir-se-á a uma parte dos integrantes do cordão que não desempenham um personagem específico e que têm entre suas funções principais cantar e dançar. Os demais componentes do grupo, quando não identificados pelos personagens específicos que assumem, serão genericamente designados como integrantes, para fins de não confundir o leitor.

[7] É muito comum nas festas de comunidades em Santarém, fretar-se algum transporte e convidar as pessoas, casais, jovens, etc., da comunidade para participarem das festas e festividades em uma outra comunidade. Se a resposta for positiva ao convite feito pela comunidade anfitriã, a mesma tem a obrigação de “pagar a visita” à outra comunidade em suas festas, festividades ou outro evento promovido por ela. Sendo a relação sempre equivalente: de festa para festa (“profana”), torneio para torneio (futebol), festividade para festividade (festa do santo padroeiro), etc.

[8] Os ciclos a que me refiro aqui não correspondem a um período contínuo e anual de apresentações, mas sim a períodos irregulares em que o cordão se apresentava e depois, por algum motivo que para mim não foi revelado, se parava de brincar e em seguida, em outras ocasiões a brincadeira era retomada novamente. Uma dessas retomadas ocorre justamente em 2005 por conta do RTID de Bom Jardim e que até hoje não se deixou de brincar.


Texto: Aldo Luciano Corrêa de Lima (Antropólogo e produtor cultural)

Coordenador do Ponto de Cultura Kizomba.